segunda-feira, 18 de junho de 2007




VIII. Miser Catulle
Miser Catulle, desinas ineptire,
et quod vides perisse perditum ducas.
fulsere quondam candidi tibi soles,
cum ventitabas quo puella ducebat
amata nobis quantum amabitur nulla.
ibi illa multa cum iocosa fiebant,
quae tu volebas nec puella nolebat,
fulsere vere candidi tibi soles.
nunc iam illa non vult: tu quoque impotens noli,
nec quae fugit sectare, nec miser vive,
sed obstinata mente perfer, obdura.
vale puella, iam Catullus obdurat,
nec te requiret nec rogabit invitam.
at tu dolebis, cum rogaberis nulla.
scelesta, vae te, quae tibi manet vita?
quis nunc te adibit? cui videberis bella?
quem nunc amabis? cuius esse diceris?
quem basiabis? cui labella mordebis?
at tu, Catulle, destinatus obdura.
Catulo

Caio Valério Catulo (84 a.C. - 54 a.C.) foi um sofisticado e controverso poeta veronense que viveu em Roma, durante o final do período republicano.

Catulo se liga a um círculo de poetas de ideais estéticos comuns, os quais, Cícero chama de poetas novos (modernos), termo este, carregado de sentido pejorativo. Esse grupo de poetas rompia com o passado literário romano (mitológico), passando, entre outras características, a utilizar uma temática considerada “menor” pelos seus críticos.

Acrescenta-se às características da poesia de Catulo, a linguagem coloquial (Ex. Ineptire, no canto VIII), a simulação freqüente de improviso na sintaxe (frases interrompidas por orações paratéticas, repetição de palavras e expressões, movimento circular da elocução), versos ligeiros e a simulação do acesso aos recantos mais íntimos do homem.

Sua obra se perpetuou através dos séculos que se seguiram, foi exemplo para grandes nomes que vieram depois como Propércio e Tibulo. Também foi muito lido por poetas como T. S. Eliot e Charles Baudelaire.


Catulo e os poetae novi

Catulo pertencia a um grupo de poetas denominados poeta novus e a importância dele é fundamental para caracterizarmos esse círculo, uma vez que é de Catulo a única obra que possuímos. Paratore enfatiza a importância e complexidade de nosso poeta no contexto daqueles que modernizaram a literatura:

“Para melhor fixar quanto, em toda esta transformação do gosto, é devido precisamente ao gênio de Catulo (o único poeta novus de quem possuímos a obra) e quanto é devido às tendências herdadas da poesia helenística e difundidas em todo o cenáculo, seria necessário enfrentar o problema das características da elegia helenística: ela limitou-se a cantar histórias lendárias de amor, ou encontros também a força de exprimir, diretamente, os sentidos de cada um dos poetas? ... Só poucos carmes de Catulo testemunham a passagem da elegia, em Roma, do tipo narrativo ao tipo meramente lírico; os carmes de amor, de Catulo, independentemente dos metros em que são compostos, têm predominantemente forma epigramática” (1987:314-315).

A revolução literária que os poetas novos trouxeram se caracteriza, essencialmente, pelo abandono da poesia épica homérica e enianana sendo substituído pelo gosto por breves versos dedicados a casos célebres de amor do mito (chamado de epílios); pela tendência de temas menores — (como o tema do amor, ou do pardal, como veremos), revelados diretamente ou sob o disfarce dos mitos; pelo cuidado com a técnica. E “o cenáculo dos poetae novi (também) introduz em Roma, definitivamente, o gosto da poesia helenística” (1987:312).

Catulo, imerso nesse contexto, se deixa levar pelas “seduções” do período helenístico, e com esses elementos ele acaba criando algo bastante moderno: a revolução da poesia Alexandrina. Como diz Paratore sobre Catulo: “o gosto pela “palavra antiga” nota-se, sobretudo, através do estilo dos poetas alexandrinos, curiosos de vocábulos da antiga poesia helênica; por isso, no seu tecido lingüistico, o vocábulo antiquado é como que uma pedra preciosa encastoada no elóquio moderno, isto é, não decorre com a freqüência sistemática que descobrimos nos escritos doutros literatos, de várias épocas” (1987:313).